No cabeleireiro, da cadeira ao lado, ouviu:
- Aquela moça é muito antipática, tem cara de quem nunca comeu melado.
Nunca tinha comido melado e ficou pensando se, por isso, também era antipática.
O beijo da tia Celeste era melado, isso ela lembrava muito bem - e até limpava a bochecha só de pensar. Lambida de gato, gloss e jiló são melados. Bebê também é quando come e se lambuza. Jogadores de basquete no fim do jogo e o motorista no ônibus no fim do expediente. Refrigerante derramado, chocolate derretido, a pele depois de um dia todinho na praia. Tudo isso certamente era melado.
- Aquela moça é muito antipática, tem cara de quem nunca comeu melado.
Nunca tinha comido melado e ficou pensando se, por isso, também era antipática.
Mas, melado é de comer?
Tem aquele do Marcelo e do martelo... Ou esse era marmelo? Marmelo deve ser melado.
O que será marmelo?
E melado?
Foi quando se deu conta: seja lá o que for esse tal de melado, está em falta por aí. Vai ver este é o problema dos dias de hoje. Mais melado, o mundo seria melhor.
Ou mais doce e simpático, como sugeriu a senhora. O que já seria um começo.