Torci.
Torci de forma irracional.
Com direito a hino berrado, oração no penalty, camisa repetida, banho de sal grosso, superstição de todo tipo como uma boa brasileira.
Chorei até descontrolar, gritei até ficar rouca, pulei até cair e bater a cabeça. Literalmente.
Rasguei calça, quebrei garrafa, não dormi. E quando dormia, sonhava com jogos, com Pelé, com derrotas angustiantes e também com gols alucinantes.
Quando acordada, imaginava o Maracanã amarelo, a sexta estrela, a comemoração tomando as ruas e sacadas. Aquela história toda. Claro que em nenhum dos sonhos, sonhados ou acordados, aquela história toda terminava com o balde de água fria. Infelizmente a surpresa que guardava essa caixinha não era nada agradável.
E enquanto os gols rivais iam entrando, a ficha ia caindo. Percebi que já nasci tricampeã, fui criada tetra, amadureci penta. E nesse tempo todo nunca me disseram que poderia perder, porque ninguém achava que isso realmente pudesse acontecer. Não conosco. Nos escondemos dentro de uma camisa amarela, atrás de Pelé.
Mas não me senti humilhada, revoltada, enganada. Chocada? Claro. Triste com certeza. Mas fiquei curiosamente aliviada.
Ufa. Tirei um peso das costas. Entendi, finalmente, que não se trata de uma liga da justiça, mas de uma seleção de futebol formada por 23 homens. Homens de carne e osso que ganham e que perdem. As próximas etapas desse processo são aprender e superar. Porque é isso que seres humanos fazem: caem e levantam, encaram altos e baixos. Às vezes da maneira mais sofrida. E sabendo que podemos perder, treinaremos para vencer. Sabendo que podemos perder, ganhar será muito melhor.
Aliviada também porque se dentro de campo levamos de lavada, fora de campo lavamos a alma. Mostramos ao mundo como é bom abraçar a pessoa ao lado, como é bom receber gente em casa, como é alegre festejar, como é gostoso o gostinho gostoso de um chopp gelado com mandioca – ou macaxeira ou aipim. Mostramos ao mundo o que é ser brasileiro. O brasileiro que sempre tem café no fogo e cerveja na geladeira, que sempre tem um sorriso para mostrar, que sempre tem mais água para o feijão, que sabe que se apertar cabe mais um. Entre, fique à vontade.
Ora, é a copa das copas pela tática dentro de campo, pelo recorde de gols, pelo sucesso de público, mas, principalmente, pelo café sempre quente no fogão. É a copa das copas porque só nós brasileiros sabemos que é na copa que todos gostam de se encontrar para um bate papo gostoso com risadas e amendoim.