Quase marrom

- Ficaram boas.
- Leve todas.
- Mas são da mesma cor...
Tentou engolir as palavras no meio da frase. Tarde demais.
- Da mesma cor? Não mesmo. Uma é verde musgo, a outra é cáqui escuro e a outra é quase marrom.
Quase marrom?
Levaram as três. Para ele, um exagero. Para ela, um guarda-roupas renovado.

Ele não compreendia essa relação com as cores. Laranja nem sempre é laranja, pode ser salmão ou rosa. Quando acha que é rosa, aí sim é laranja - às vezes salmão. E nem espremendo os olhos ele enxerga aquela parede rosa da sala como salmão clarinho.

Azul quase sempre é azul mesmo, mas com sobrenome. Azul turquesa, azul piscina, azul esverdeado, azul claro, azul cobalto, azul marinho. Azul marinho era aquele terno que uso em casamentos, não é mesmo? Esse eu conheço. E às vezes azul é um lilasinho. Já tinha dificuldade de compreender o lilás. Lilasinho, para ele, era demais.

O verde pode ser pistache, hortelã, menta, bandeira.
O vinho também é tijolo, canela, terracota, beterraba, burgundy.
E tem o bege, ou cáqui, nude, cru, areia, ocre, caramelo, begezinho. Diminutivo virou cor.
O branco está mais inovador do que nunca. Off-white, pérola, branco sujo.

Sujeira era tendência.

Lançou um desafio. A partir daquele dia compraria só peças marrons para ver até onde vai essa imaginação.

Calça, bermuda, camisa, casaco, cinto, carteira, cueca... Tudo marrom.
Para ela, fendi, marrom esverdeado, cor de burro quando foge, café, chocolate, capuccino.

Ela achava graça. Apesar das diferenças, eles combinavam.