Quando eu era velho

Velho a gente sempre é.

Ainda novo, antes mesmo de começar a lembrar, mamei, usei fraldas, engatinhei, falei a primeira palavra quando, dizem, já era velho-para-isso.

No primário, menino de tudo, eu queria ser-mais-velho como o Beto do ginásio. Por anos antecipava a idade quando me perguntavam. Quase nove, quase onze, quase mais-velho.

Na juventude nunca fui muito de sair, de badalar, de farrear. Gostava mesmo era de ficar em casa sossegado. E aí, eu era um-velho para os amigos.

Aos 15, achava que 30 era bem-velho. Aos 30 percebi que velho-é-a-vovozinha. Aos 40 descobri que ser-velho é só uma questão de interpretação. E depois de perder as contas, entendi que mesmo-velho não era velho-assim.

O curioso é que depois-de-velho a gente deixa de ser velho. E passa a ser idoso. Ou viver a terceira, quarta, quinta idade.

E outro dia ouvi de um velho-amigo ‘poxa, como você está jovem’. Isso é novo para mim.